Páginas

sábado, 21 de abril de 2012

Sobre bloqueio e modo catástrofe

Certo tempo atrás eu achei que se eu tivesse as palavras, nada mais importava. Que se eu pudesse simplesmente continuar escrevendo, fluindo entre as letras, não importava o resto. Estou vendo que não é assim.

Ontem achei o primeiro fio de cabelo branco da história desse país cabelo. Um longo e forte fio prateado, saindo bem do centro do meu longo cabelo castanho. Duas hipóteses: eu posso estar ficando velha e louca, ou, é o resultado dos últimos seis meses de caos. 

Teve o caos bom, a catarse em diversos momentos, as novas conquistas, o novo gosto na boca. Outros, eu preferia me esquecer completamente. Estilo Lacuna Inc., mesmo.

Um amigo me disse outro dia que perguntou à sua terapeuta, como ele poderia se esquecer pra sempre de uma determinada pessoa. Ela disse que, quanto mais mágoa e rancor você sente, inevitavelmente se lembra da pessoa, 2x mais do que simplesmente deixasse ir, associando sentimentos de "oh, que bom que fulano tá feliz". Porque quanto mais você pensar com tranquilidade, mais tranquilidade vai existir.

Eu pensei que tudo bem se houvesse decepção, desespero, solidão. Eu ainda poderia escrever, não é mesmo? mas ontem parei pra pensar, olhando fixamente pra poucas linhas porcamente escritas em um intervalo de trabalho, e senti um peso enorme no fundo do estômago. O bloqueio. Ele chegou. Finalmente. 

Há exatos seis meses não toco violão, não escrevo uma letra inteira de música. Não escrevo um mísero conto, não mais do que uma página ou meia. É por isso também que voltei com o blog, pra ver se me obrigava a escrever pelo menos um pouco. Eu não posso me dar ao luxo de me sentir inapta, pensei, esse é meu ganha pão. Mas escrever release, matéria, é outro campo. Pra isso a gente tira uma carta da manga, pede ajuda ao colega, dá voltas, aumenta o boiler. O problema é a parte de sentir paz, fluência na ponta dos dedos, sentir que tá chegando a algum lugar. Faz tempo que sinto que estou andando em círculos.

Não vou culpar as circunstâncias, acontecimentos, nem a inspiração. O problema todo é que eu não sei o que fazer com esse momento em que vivo, onde ainda não iniciei a transição derradeira pra outra perspectiva, em que sou obrigada a esperar, enumerar, organizar. Impaciência, impaciência. Doses de melancolia, pinceladas no meio do dia pelo sentimento de catástrofe. Condição delirante de que eu estou sozinha nesse mundo. Meu mundo. Lamentações que me fazem sentir meio patética.

Essa cobrança de ser forte, sempre: ultimamente eu tenho ignorado tudo isso de leve. Ignorado a bagunça, a mala que não foi desfeita, a súplica por ser menos eremita, por sair de dentro do quarto um pouco. Os pedidos pra sair de casa e beber por aí. Atender as pessoas não tem sido meu forte nos últimos tempos. Nem escrever.

Eu sou impaciente demais, às vezes. Eu queria ter um calendário, prevendo tudo que vai acontecer e o que posso fazer. Não ter data pra sentir paz de novo me oprime, me deixa chateada e deprimida, achando que tudo vai dar errado. Não sei o que fazer com esse sentimento de querer acelerar o tempo, de recortar lances de vida e jogar fora, adiantando o espetáculo. Botão fast forward. E nem sei se isso é o certo também, enquanto cenários nada promissores pipocam na minha cabeça; podia existir o botão "sair pra comprar cigarros e nunca mais voltar" também. 


I just don`t know what to do with myself, tã-nã-nã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários.