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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Processos de cicatrização

Eu relutei muito em escrever diretamente sobre isso aqui no blog, porque eu sou daquelas meninas turronas que escondem o choro e não gostam de mostrar fraqueza. E que simplesmente guardam muita coisa num cantinho escondido e meio inacessível. Mas também porque muita gente que eu desconheço acessa isso aqui. Também o medo de virar muito "mimimi". Só que eu criei esse blog não pra ter filtros, nem amarras. Foi pra exercitar a escrita livre e sem correntes, pra falar do meu cotidiano, de jornalismo, de gatos, de música, e do que eu quisesse. E se a pessoa se incomodar com meu mimimi, que não leia. Afinal, meu blog leva meu apelido no nome, minha essência, do começo ao fim. Se começar a filtrar tudo, meu intuito se perde. Já falei de sentimentos no blog nesse e nesse post. 

Esse mês me questionaram muitas vezes sobre o porque eu faço tanta questão de estar sozinha. Simplesmente não assimilam nem aceitam muito bem que sim, é uma opção, é um senso de preservação, é uma falta de vontade crônica, é desinteresse. Eu olho pras pessoas e não vejo nada. Não sinto nada. E não tenho vontade de envolvimentos ocos. Porque eu já passei por isso, como todo mundo, e não me trouxe nada de bom. Só ressaca moral e uma lembrança mais ou menos. E eu detesto o morno, o sem graça, o meia boca. 

No dia 20 de outubro acordei com uma sensação engraçada. "Faz 1 ano", pensei, com a cabeça pesada no travesseiro."Que estranho, comemorar aniversário de fim de relacionamento. Sou mesmo esquisita". 

Eu namorei por 8 anos esse mesmo garoto. No dia seguinte, mesmo depois de ter passado anos dormindo ao meu lado, ele já estava em outro relacionamento. 24 horas depois, simples assim. Hoje em dia, isso não importa muito, porque eu estava muito infeliz nesse relacionamento que não saía no lugar. Eu merecia alguma coisa melhor, e mesmo ficar sozinha seria melhor. Mas no dia que eu fiquei sabendo (porque vieram me contar), eu senti um misto de sentimentos confusos. Dor. Decepção. Tristeza. Raiva. Mas principalmente, inveja. 

Inveja, sim. Porque eu nunca tive nem terei esse desprendimento. Nunca terei essa capacidade oca de encher meu coração com qualquer um, rapidamente, depois de um baque tão grande. Demorei pra engatar a vida de solteira. Posso ficar besta, encantada, mas passa logo. Meu corpo, no término, não conseguia entender, assimilar, que era hora de mudar de ar, de rotina. 

Porque, pensei, minha cicatrização é tão lenta? Penso nisso hoje, ainda, e me sinto quebrada. Pois é, outubro chegou. 

Meses depois, outra paixão, nova. Outro ponto final. Tentei uma conduta diferente dessa vez, em diversos sentidos. Sabe quando você tá montando um cubo mágico e você fica tentando entender aquilo e mudar posições, lados, juntar pontas e peças? fazer diferente um processo semelhante? foi assim quando acabou. Eu fiquei tentando catar os pedaços e colar de volta, tentei ser racional. Mas quando eu juntava um, outro caía de novo, e eu olhava aqueles pedaços todos amontoados de forma meio patética, inerte. Uma ponta ficava solta, quando eu tentava remendar outra. "São muitos pedaços pra colar", eu disse pra um amigo, em uma conversa em uma das madrugadas sem sono. "É por isso que eu quero ficar sozinha". 

Tem momentos que esqueço desse, do outro, de todos os outros. E me concentro na minha vida. Mas hoje, quando penso em gostar de alguém de novo, de me dedicar, sentir afeto e amor, nossa, me vem um embrulho na boca do estômago, muito forte. Um nó na garganta, uma vertigem. As pontas de um ano atrás e as de meses atrás ainda tão aqui, a ferida ainda tá exposta. Que raiva eu sinto disso, dessa minha incapacidade de cicatrizar rápido. De não conseguir, sabe, simplesmente não ter medo?

É isso. Eu tenho medo. Sinto pânico de deixar outro entrar, de novo. Pode parecer que eu tô me cobrando sobre isso, de superar rápido. Mas não é isso. Eu não tô com pressa, mas às vezes essa sensação me aterroriza. Não a da solidão, que eu aprendi a apreciar, mas a da incapacidade de sentir de novo, de sentir forte, incontido, transbordando. E esse terror não me deixa mais sentir o gosto na ponta da língua, a ansiedade do descontrole. Esse medo me mantém presa no chão. Eu nunca mais voei. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Business trip to Bonito

Media Desk <3
Título em inglês nesse post só porque aqui tudo é bilingue, tá? haha. Mas é sério, as placas da cidade em que me encontro agora são todas em inglês e português. Explico:

Pra quem não sabe, Bonito é a maior cidade turística de Mato Grosso do Sul. Em função de suas muitas atrações naturais como cavernas, grutas, rios e balneários, a cidade basicamente vive disso. As ruas principais, centrais, são repletas de lojas de artesanato, locais que oferecem de tudo ao turista e restaurante que servem basicamente peixe e carnes exóticas (jacaré, por exemplo). 

Cheguei aqui na terça-feira, para trabalhar na assessoria de imprensa do XVII Congresso Nacional de Águas Subterrâneas (CABAS). Viemos de carro, eu e Renato, o que é muito bacana pela possibilidade de dar um rolê pela cidade, que eu conhecia pouco. Em função do trabalho, a gente não conseguiu fazer nenhum passeio mais elaborado como a Gruta do Lago Azul ou flutuação na Barra do Sucuri, mas conseguimos ir em alguns lugares bacanas. Deixo aqui a dica pra quem quiser se aventurar. 

A minha única ressalva é que Bonito não é nada barata. Tudo tem um custo grande, ainda mais em alta temporada, você paga a mais ou a menos, mas sempre, é alto. Por isso, o melhor é ir passear quando sobrar uma graninha. Eu mesma tô saindo sem um suvenir sequer, tamanha a pobreza em que me encontro (exceto uma garrafa de taboa pro meu amg @ThiagoMacarini).

1. Pra beber:
Vá, indubitavelmente, ao bar da Taboa, localizado na avenida principal da cidade. O bar é todo decorado com a assinatura dos milhares de turistas que por ali passaram. A gente bebeu uma vez de tarde e outra fez um happy hour com amigos jornalistas de passagem. Na ocasião, tinha música ao vivo rolando, e galera embarcando na bebida que nomeia o bar: a taboa é uma cachaça doce com especiarias, fabricada aqui mesmo em Bonito. 

Euzinha e o cardápio.

2. Pra comer:
Acabamos de voltar do restaurante Casa do João. Que lugar lindo! fiquei muito chateada por estar sem minha câmera fotográfica (ficou sem bateria no hotel). O restaurante tem cara de fazenda antiga, e atrás do espaço de jantar, funciona uma loja com muitos artigos interessantes, móveis de madeira bruta, artesanato local, até roupas e produtos de beleza. Tudo com um ar super vintage e antigo. O carro-chefe do restaurante é a traíra assada, um peixe muuuito gostoso, mas como a gente estava meio enjoado de peixe (que é a especialidade de quase todos os restaurantes da cidade), pedimos filé ao creme de gorgonzola com batatas douradas e eu sai rolaaando de tanto comer. Muito bom. 

Dsclp pela foto made in google! eu tonta tava sem máquina :(

3. Pra relaxar:
O Balneário Municipal de Bonito é muito bacana. Funciona assim: você paga R$ 15 pra ir até o rio, com toda a estrutura possível  Tudo muito limpo e bem cuidado. O rio tem uma base de pedra, você pode sentar e ficar ali na água, enquanto piraputangas te cercam! sim, os peixes (enormes) são tranquilões, e ficam no meio das pessoas. Cardumes e mais cardumes ao seu redor. Eles disponibilizam ração pra você alimentar a galera (peixes, não turistas, pfvr). É muito legal. Dá pra mergulhar também, entre os peixes. 

Eu fantasma no meio dos peixes.

Dica extra: O Congresso instalou a gente num hotel muito maneiro, o Pira Miúna. Sério, meio temático, a cara desse estilão de Bonito. Tem uma piscina muito legal, café da manhã impecável. Muito confortável e bacana, e perto de tudo na cidade. 

Fiquei no andar de cima, com vista pra essa piscina e esses telhados sustentáveis.

Espero que gostem! eu vou agora voltar lá pra capital, querendo mesmo é voltar pra conhecer as outras tantas coisas. 


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Teorema do azul e rosa

Hoje eu vim trabalhar de saia longa. Uma saia azul marinho, corte reto, como essa. E camisa de alfaiate, jeans. Ares de surpresa à minha volta. "Nossa, como você tá menina!".

Eu não me incomodo, e aceito o espanto das pessoas, porque eu tô mesmo sempre preferindo as cores escuras e as roupas não tão ~menininhas~, como eu falei nesse post aqui. E tem muitos itens oriundos do vestuário masculino entre minhas roupas, como colete, camisa, jaqueta militar, bota motorcycle. Eu tenho apenas 3 saias, duas que adquiri recentemente.

Ficamos sem internet hoje, fiquei conversando com o Dani. E surgiu o assunto da imposição de gêneros na sociedade em que vivemos: o "Isso é coisa de menina. Aquilo é coisa de menino".

Isso não existe mais na minha noção de mundo, mas já existiu. Lembro especificamente de um episódio particular. Quando eu entrei na terceira série (8 anos, acho), mudei da escola pública pra escola particular. Na pública eu tinha muitos amigos, era bem querida por professores e não tinha maiores problemas. Na particular a realidade era outra.

As meninas gostavam de me "isolar" porque eu tinha vindo de escola pública. Os meninos gostavam de provocar porque eu era deliberadamente deixada de lado pelas outras. Então minha vidinha era um inferno. Eu odiava aquela escola com todas as minhas forças, e pedi pra mudar várias vezes, o que aconteceu no final do ano letivo. Mas um certo dia, um garoto que também era zoado pelos outros (porque era "feio") resolveu pegar no meu pé. E me cutucar e puxar meu cabelo, me empurrar e me seguir pra todo lado me xingando. Aí uma hora não aguentei e revidei, comecei a chutar o garoto, e eis que ele correu pro banheiro dos meninos. 

Não hesitei nem um momento: entrei lá e terminei de descer o cacete nele, como diz minha avó. Sai toda orgulhosa (e feliz por não ter apanhado de volta). E contei pra um adulto o que tinha acontecido. 

Minha surpresa principal foi ter levado uma bronca nervosa, mas não por ter batido no garoto, me envolvido numa briga. E sim porque entrei no banheiro masculino. "Você não tinha que entrar lá! lugar de macho e não de menina! daqui a pouco você vai querer mijar em pé! não pode isso, não pode, é proibido!". 

Minha confusão foi imensa. Só entendi isso anos mais tarde. 

E aos 17 anos tive uma fase de só usar quase roupas masculinas. Eu vestia calças largas imensas, tênis. Sempre top de ginástica e nunca sutiã de bojo. Passei um ano sem comprar calcinha, eu simplesmente comprava cuecas box ou no máximo calcinhas shortinho. E camiseta de banda, e nunca maquiagem. Foi uma fase? acho que sim, mas não sei se passou porque simplesmente me interessei por outras roupas, ou se sofri alguma pressão velada. Mas eu me lembro claramente de, por exemplo, comprar jeans masculinos, porque os femininos da minha numeração não faziam eu me sentir bem. Sentia que eram apertados, sempre menores do que os masculinos. Eu realmente, nessa fase, não me sentia bem usando roupa feminina. Só os cabelos compridos que são os mesmos. 

Eu de costas, primeira banda, tocando guitarra, e a eterna calça enorme.

E tenho certeza que, todo mundo, uma vez na vida ao menos, foi etiquetado e colocado na prateleira de comportamento e modus operandi do gênero no qual nasceu. Meninos de azul. Meninas de rosa. Meninos podem transar cedo, meninas não. Meninos não choram. Meninas precisam se casar. Mulheres ganham menos. Homens precisam estuprar, porque senão, não são homens.

E sabe qual o grande problema disso? Os meninos que não choram, guardam aquilo pra sempre. As meninas que não podem transar cedo, são colocadas numa redoma de vidro "pra casar" e tem suas sexualidades domadas de forma humilhante. E assim, vida afora. 

É possível uma sociedade sem distinção de gêneros? igualitária e completamente equilibrada em seus conceitos de cultura, educação, moral, leis? Sei lá. Na atual circunstância, acho que não. Mas pra começar, se meninos e meninas pudessem usar qualquer cor que quisessem, sem sofrerem opressão por isso, acho que seria um bom começo. 

PS: Nesse contexto, eu recomento o filme "Tomboy" (foto do começo do post), que assisti no Festival Mix de Cinema. É sobre uma menina que, ao se vestir e se comportar como menino para novos amigos, vive descobertas e emoções como nunca. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Da amargura de todos nós

Um daqueles dias de calor, onde sobram afazeres e falta tempo. Passei duas horas à procura de uma roupa pro último casamento tradicional que minha família verá. Lembrei que precisava comer e me dirigi ao restaurante de comida chinesa do shopping. Enquanto eu me empenhava em escolher a berinjela empanada mais bonita, uma senhora parou ao meu lado, em frente à atendente. A moça, ar cansado, inspirava pesado e parecia meio doente, meio gripada. 

- Que comida é essa? - disse a senhora, em tom rude. 

- Temos batata agridoce, yakimeshi, carne com moyashi, no self-service e pratos prontos que... 

- Que porcaria de restaurante você serve, garota. - disse a senhora. - Porque não tem uma abobrinha refogada, um leguminho? uma carne assada? uma polenta? assim é difícil, garota. Assim não dá. Aposto que essa comida que você serve é ruim, é mal feita. Que cara de comida nojenta.

Enquanto eu servia, ela desfilou um discurso imenso. Do começo ao fim da fila, encheu o saco da atendente, que só olhava com um ar cansado e contrariado. No final, a velha virou as costas, e foi-se embora. Simples assim. Ela não ia comer nada, pensei, só foi ali pra encher o saco. Pra descontar sua frustração em cima de uma moça que provavelmente passou o dia todo em pé, no calor da cozinha. 

Quando fui pagar, dei um sorriso sem graça pra moça. Minha vontade era xingar aquela senhora pentelha sem noção, oferecer pra moça todo meu apoio e dizer que eu adorava a comida do lugar. Até ia fazer isso. Mas a moça já estava contaminada. Me atendeu tão rudemente quanto a velha, passou minha conta fazendo aquele barulhinho irritante de 'tss' com a boca, falou: "16,90, moça" com ligeira aspereza e praticamente me jogou os talheres no balcão. 

Peguei minha bandeja meio #chatiada e sentei pra comer. A falta de noção foi clara, da senhora, que não leu o letreiro COMIDA CHINESA, mas o pior de tudo, fiquei imaginando, foi o tom de amargura mal contida na voz dela. Porque educada eu sei que ela foi, e aposto que ela tem acesso à várias dicas de polidez e etiqueta. Mas lá estava ela gritando de graça com a moça, virando as costas e indo embora. Essa mesma amargura frustrada, que se aloja na gente, que consome nossa empatia, e nos faz virar monstros condescendentes e estranhamente inóspitos. Seres estranhos dentro dos nossos corpos. 

Fiquei imaginando quantas vezes por dia a gente é amargo. E quantas pessoas são assim o dia inteiro e já são assim há anos. Será que hoje eu tratei alguém mal? eu invejei isso ou aquilo, eu critiquei desnecessariamente alguém, eu coloquei essa pessoa pra baixo?

Há muito tempo que eu acho que chamar outras mulheres de puta por causa da roupa que veste é um tipo de amargura. Que tratar a vendedora da loja, a faxineira, o zelador mal, é um tipo de amargura também. Que olhar de forma superior uma pessoa que não acredita em religiões em geral, com argumentos de "Você vai pro inferno por não acreditar no meu deus" é ser meio amargurado. Que no âmago de todas essas críticas nocivas e preconceituosas, que ferem bem o que a gente é, está uma grande e próspera casca de amargura. 

As vezes a gente faz isso sem perceber. E acho que o grande desafio é esse. Pegar toda essa frustração e trocar pelo sentir o outro, estar na pele do outro. Acho que a gente se aproveitaria menos da fraqueza das pessoas. E nos tornaríamos menos fracos, também.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Mil vezes gatos

Ando numa correria beinloca ultimamente. Logo, fiquei sem conseguir escrever os posts que planejei :/. Porém, não faz mal, mesmo assim eu persisto!

Aproveito então pra mostrar rapidinho (entre uma pauta e outra, loucura de dois empregos: você trabalha na sua folga, e eu ainda resolvi voltar a ter banda de rock, coisa que me faz muito muito feliz) uma coisa que sempre gostei: fotografar gatos. Faz um tempo que coleciono algumas imagens, desde mais ou menos 2008 (quando adotei a Pan). Meus gatos, de amigas e amigos, da chácara, da rua. 

Não é fácil fotografar animais, mas quando você consegue, geralmente fica muito bonito. Gatos então (belos e majestosos por natureza) nem se fala. Há um tempo, criei no meu flickr uma galeria com essa temática (só clicar na imagem). 

Volto logo, prometo!

PS: Olha quem apareci na capa de uma revista daqui de Campo Grande com um gatinho (o Sinhô, que mora na nossa chacrinha e é o mais bonzinho) hahaha. Vergonha master, mas deu pra defender  bem na matéria porque é importante ser responsável por seu animalzinho e como cuidar dele (e como eles cuidam da gente).