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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Crescer, essa maldição


Apesar de não ter dado sinal aparente no site oficial, semanas atrás o SWU teve divulgada na internet, algumas das atrações 2012 do festival. 

Eu fui em 2010, na edição que aconteceu em Itu, por causa do Queens of the Stone Age e do Pixies. Foi uma viagem muito boa, os shows lindos, a infra-estrutura nem tanto. E também estive no Lollapalooza esse ano, para assistir ao Foo Fighters e o Cage the Elephant

Quando anunciaram, no SWU, Mastodon e Slayer, meu coração até palpitou. Banda da adolescência, aqueles lindos (!) do Slayer. Mastodon é uma paixão mais recente. Os discos deles me deixaram impressionada. Na hora eu comecei a checar alguma coisa relacionada, feliz da vida pela notícia de que seria no Anhembi, em São Paulo (essa mesma cidade de zilhões de prédios aí, da foto que foi tirada por mim no Jóquei), logo, muito mais fácil de ir (em termos de transporte, acomodação, opções. O SWU que fui foi um sofrimento em todos os setores). 

Eu tenho 23 anos, um trabalho regular, sou recém formada e não tenho filhos. As únicas pessoas a quem me "reporto" de alguma forma são meus pais, e não porque eles exigem, mas porque eu me sinto na obrigação, em função de ainda partilhar o mesmo teto que eles. Mesmo assim, me vejo diante de questões importantes. 

Atualmente, pra viver sozinha, eu teria de viver mal. Teria que dividir. A ideia de partilhar a vida com outra pessoa ruiu há quase um ano. Minha carreira está bem no comecinho e eu não tenho, ainda, condições de viver de forma independente sem passar muitos perrengues e sem depender de ajuda materna. 

Porém, a ausência de responsabilidades sérias (contas de água e luz, o leite das quiança etc) pode me favorecer viajar pra Buenos Aires e pra Londres, e ir em todos os festivais de música que eu imaginar, certo?

Bom, mas no ponto atual, é preciso decidir. Eu posso dar um salto no final do ano, ou alguns meses adiante, e começar a preparar pro mestrado, o que me dará vantagens na minha carreira, me proporcionará sair de casa, mas também haverá a questão financeira, o que aqui quer dizer: economia, muita economia. Ou posso continuar no que estou agora por mais alguns anos, apenas pleiteando um emprego bom a longo prazo, e assim viajar e fazer as coisas que quero. Mas continuar morando com os pais, o que implica uma série de outras questões. 

De um lado: "Aproveite a vida agora, que você pode, e pense na carreira depois". De outro: "Foque na sua vida profissional agora, ganhe dinheiro, e depois, com estabilidade, desfrute de festivais e viagens".

Mas a questão permanece: Qual é o momento de viajar e aproveitar a vida? E qual o momento de focar na carreira e sair de casa? Existe momento certo pra qualquer uma das duas coisas?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Florbela fala comigo

Há algum tempo tenho estado quieta no meu canto. Sem sair por aí, sem me estressar. Contida na casquinha.

O ócio me pega pelo pé e traz junto o mau humor, então como uma forma de estratégia voltei a ler várias coisas pelas quais sou apaixonada faz tempo, como Sandman. Tenho dedicado tempo à redescoberta.

Aos 16 anos, eu gostava muito das poesias de Florbela Espanca, pela visceralidade, o tom de urgência, esse pulsar de palavras. Eu sempre fui urgente, assim, também. Pressa, ansiedade, pluralidade de sentimentos e reações. 

A portuguesa que morreu cedo, aos 36 anos, teve uma vida intensa e conturbada. Assim são os poemas dela: quando falam de amor, é forte, delirante, intenso, cheio de paixão. E quando falam de perda, de tristeza, é na mesma intensidade dolorosa e causticante.

Se é pra ser, que seja assim, cheio de vida. Que haja dor, sentimentos, furor. Que haja tudo.

"...Digo os anseios, os sonhos, os desejos 
Donde a tua alma, tonta de vitória, 
Levanta ao céu a torre dos meus beijos! 

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço, 
Sobre os brocados fúlgidos da glória, 
São astros que me tombam do regaço!". 

PS: Me lembro sempre da minha nega Re, quando lembro de Florbela.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Hoje, amanhã e depois


Eu ando míope. Ando não, na verdade sempre fui. Usei óculos em 2005, no segundo ano do ensino médio, porque sentava no fundo da sala. Quando meu óculos quebrou, não comprei outro, e logo abandonei por causa do grau tão baixo. 

Eu ando míope, mas não só meus olhos não enxergam as placas de sinalização na rua com dificuldade de reconhecer letras muito pequenas. Também não consigo focalizar nem enxergar nada no que diz respeito ao meu futuro. 

Todo mundo passa por isso, em algum momento da vida. Devo dizer que é a primeira vez pra mim. Do ensino médio à faculdade, e depois ao mercado, foi um caminho reto. Nunca tive dúvidas em relação a escrever - ao jornalismo tudo bem, mas eu teria feito qualquer outro curso que me desse o que eu buscava, que era aprimorar uma coisa que eu já amava fazer, e arrumar um jeito de fazer dinheiro com isso. E nesse momento, eu contava com uma 'pessoa', em quem depositei sentimentos, sonhos, vontades, por longos oito anos. 

E eu estava lá, pensando que meus objetivos iam se cumprir da maneira que eu esperava e eu ia ter tudo que eu precisava nas mãos. Ledo engano. Começou com o fim do relacionamento, por esse exato motivo: o futuro, o crescimento, nunca chegava, pelo menos por parte dele. Meu esforço estava sendo inócuo. É claro que ruiu. 

Uma vez passada a sensação de pânico, e acostumada às sensações dessa solidão que eu não havia experimentado por tanto tempo, pensei: "eu ainda posso seguir sozinha". Mas hoje, nove meses depois, eu me vejo sem certeza nenhuma. Dead end, friend. 

A gente tem as coisas na mão em um momento, e no outro não tem mais. Tem sido assim. Todo o amor que deposito sobre as coisas e as pessoas não tem vingado, não tem florescido. Como plantar uma semente e ela nunca nascer. Demorou oito anos pra alguma coisa ser arrancada assim de mim, então quando acontece tão rápido, como tem sido, eu não sei lidar. Não sei reagir. Não sei ser madura o tempo todo, não sei pensar em plano B. Eu preciso de tempo, e todo mundo me dá tempo. Mas a cobrança continua, dentro de mim mesma. 

Esses dias me perguntaram: "O que você quer pro seu futuro?" e eu respondi um sonoro "não sei". Viajar? morar sozinha? adotar mais um gato? ter um emprego que possa me proporcionar prazer e crescimento? esses sonhos bastavam pra mim até ontem. Agora eles parecem longe de mim, porque eu não consigo atravessar os obstáculos de agora. Eu não consigo enxergar a estrada. O caminho do hoje, amanhã e depois. Até o futuro. 



terça-feira, 17 de julho de 2012

Cinco músicas marcantes

A Bruh do Outramentos, uma queridona, foi indicada pra um meme - sim, daquele estilo que fazíamos blog afora, que segundo a própria, "simples e com cara da “blogosfera de antigamente”, o que todos nós do Volta, Mundo Blogueiro! estamos buscando", e me indicou de volta! adorei a ideia.

É muito simples: escolher 5 músicas marcantes/importantes na minha vida, ou 5 músicas favoritas. Claro que fiquei surtada com isso, que dificuldade! se fossem as 365 músicas marcantes beleza, mas só cinco, complica. Ou não. Então pra acabar com o mimimi, decidi escolher 5 músicas marcantes pra uma fase mais atual da vida.

1. No one love's me & neither do I - Them Crooked Vultures.
Them Crooked Vultures é o projeto do Josh Homme (Queens of the Stone Age - minha banda favorita por sinal), do Dave Grohl (Foo Fighters) e do John Paul Jones (Led Zeppelin), e ainda conta com o Alain Johannes (Eleven) como guitarra de apoio. Eles se juntaram pra um album só, Them Crooked Vultures (2009), e todas, eu disse todas as músicas são boas (tem como não ser?). 

No one love's me & neither do I é a faixa nº 1, a primeiríssima que abre o disco. E também uma das músicas que eu mais amava tocar com a Bullet Cluster, minha última banda. Depois ela fez total sentido, em uma fase meio tr00 da solteirice. "And I said, no one loves me, neither do I / It makes perfect sense / So I never ask why/ I'll go tomorrow/ 'Cause life doesn't wait/ You can keep your soul/ I don't wanna soul mate". E mesmo depois de passada a fase, faz total sentido. 


2. Meet me on the darkside - Melissa Auf der Maur.
Melissa, ah Melissa! Canadense linda, ex-baixista do Hole e do Smashing Pumpkins. Eu já era apaixonada pelo trabalho dela antes, e quando ela lançou disco solo, em 2004, aí -morri de vez. Além de tudo, esse mesmíssimo album foi produzido pelo Josh Homme! O segundo disco dela, de 2010, é mais maduro e tão bom quanto, "Out of our minds". Vale a pena, porque além de exímia instrumentista, as músicas são muito profundas e a voz da Melissa é super suave e diferente. E puro rock. 

Meet me on the darkside é a faixa nº 7 do segundo album. Ela fala sobre dualidade nas coisas, sobre nosso lado selvagem. Me identifico com cada letra, cada palavra. "Everyone has a dark side/ Why don't you like mine?" resume mil coisas. 


3. Hang you from the heavens - The Dead Weather.
The Dead Weather é o projeto daquele inquieto e lindo do Jack White (The White Stripes) com a lindona++ da Alisson Mossheart do The Kills. Juntou aí uns 'fera' de Nashville e fizeram o projeto, que tem dois discos. 

Hang you from the heavens é uma das músicas mais impressionantes do primeiro disco deles, de 2009. A linha de sintetizadores do início da música é incrível, rasgada, e cede espaço aos vocais maravilhosos da Alisson, a única mulher do universo que sabe ser sexy de casacão (ui). Mentira, todo o trabalho da moçoila é demais. "I 'd like to grab you by the hair / and send you up to the devil".


4. Thumb - Kyuss.
Primeira banda de Josh Homme (ele tá em todas na minha lista, tô sabendo), o Kyuss (Sons of Kyuss, primeiramente), que começou em 1988, era uma coisa linda, eles montavam os equipamentos no meio do deserto em Palm Springs e criavam um dos sons mais incríveis que existem. A banda lançou 5 albuns e acabou em 1995. 

Thumb, do disco "Blues for the red sun" (1992), tem um baixo poderoso, e uma letra absolutamente cínica. A voz rasgada de Joe García casa lindamente com a guitarra grave de Homme. Perfeito. "You don't seem to understand the deal/ I don't give two shits on how you feel".




5. Leif erikson - Interpol.
Já falei de como amo Interpol nesse post aqui, então vamos falar de tekpix da música. Leif Erikson é do album "Turn on the bright lights" (2002) e pra mim é uma das melhores músicas deles. Calma, contida, com a voz grave de Paul Banks soando. E a letra, dá arrepios só de lembrar a primeira vez que interpretei. "She says it helps with the lights out / Her rabid glow is like braille to the night". 


E aí, fiz direitinho? ;D

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sem freio e com rock

Tempos atrás, andando pela casa, um som muito interessante me atraiu pra TV que alguém deixou ligada. O clipe era tão incrível, e a temática da música soava tão perfeita que me encantou na hora e me atraiu feito uma mariposa pra lâmpada recém acesa. Esperei pra ver os créditos daquela música e arte visual impressionante. "My Favorite way - Black Drawing Chalks".

Imediatamente procurando na internet, a surpresa (boa). A banda não era gringa, como eu havia sinceramente pensado, e sim dos meus vizinhos de estado, de Goiânia! Formada por quatro músicos goianos, o Black Drawing Chalks vinha arrebanhando atenção de todo mundo com aquele clipe, por ser independente, por ser tão bom e diferente. Aí, fuçando mais: dois dos integrantes são designers, um deles é tatuador também, e juntos formam o Bicicleta Sem Freio (com mais um ilustrador), coletivo que faz umas ilustrações muito incríveis, voltadas pra temática rock de posters de bandas, capas de cds, de shows, flyers de festivais independentes, camisetas e afins. Muitas cores, traços psicodélicos. A Converse fez ainda um doczinho sobre eles, mostrando um pouco do trabalho.



Não dá o maior orgulho de ver algo tão bom, saído aqui, do centro-oeste? Eu que amo design e rock, fico extremamente contente e saio falando pra todo mundo do trabalho desses caras (e da banda também, que é boa demais, diga-se de passagem. Tive a grande sorte de ver um show deles em um palco baixo, cara a cara, som no talo, aqui em CG. Lindo, lindo de verdade). E tenho muita vontade de ter todas essas ilustrações em mil quadros, emoldurar a ideia psicodélica. 






Bicicleta Sem Freio: Flickr | Contato

sábado, 7 de julho de 2012

Se eles não aprendem, a gente ensina


Ano passado eu estava completamente submersa no case de um grande evento de arquitetura e design, então não participei da assessoria de imprensa de um festival de cinema voltado para o público LGBT, que se tornou cliente da agência e retornou esse ano, mas agora sou uma das assessoras, e confesso que esse trabalho tá me dando um orgulho enorme.

Renato apresenta e eu fico ali de assistente de palco. (Foto: Alline Romero) 

Se na faculdade a gente aprende que é preciso ser isento, imparcial, a vida mostra que isso é história pra boi dormir. Os discursos são muitos, e o que mais se vê é galera apontar o dedo na sua cara quando se defende que a gente é, antes de jornalista, humano, cheio de medos, preconceitos, traumas. E que não existe isenção, é impossível. Imparcialidade é ficar quieto. Não existem veículos imparciais, ainda mais em função do dinheiro que move a indústria da informação.

O problema da defesa dos direitos de gays, lésbicas, travestis, de negros, de índios, de mulheres e todas as minorias (e elas são muitas), é a gente confundir, no jornalismo, liberdade de expressão com escrotisse generalizada, geralmente respaldada por religiões em geral e bancadas evangélicas. Isso sim, na verdade, é o problema.

Cris Stéffany, presidente da Associação dos Travestis e Transexuais.
Foto: Alline Romero. 
Eu me sinto orgulhosa da agência onde trabalho, porque quando aceitamos ser a assessoria de imprensa do evento em 2012, propusemos ao cliente que se fizesse um workshop para jornalistas, principalmente sobre nomeclaturas. É 'a' ou 'o' travesti? e todas as gírias oriundas das ruas, onde essas pessoas estão marginalizadas? Quase ninguém sabe que existe um manual de redação LGBT (Clique aqui e veja em PDF). E que não existem veículos de mídia (revistas, sites) voltados para a mulher gay, independente de estereótipos e padrões. Misoginia? dentro de um universo de minorias? sim, isso existe. Talvez muito menos velada do que é no mundo heterossexual de revistas que só sabem estampar "1001 jeitos de agradar seu marido".

O workshop foi muito corretamente batizado de "Abordagem na imprensa gay: desafios e oportunidades", porque reflete o que queríamos passar: jornalistas, aprendam! O desafio existe, então que a gente busque atingir esse público, da forma certa, da forma respeitosa, da forma não imparcial, mas sim inteligente. E porque não movimentar essa indústria, oportunizar mídia, democratizar, abordar? E sem preconceito, isso é o básico.

Público lotou duas salas de cinema na estréia do filme francês 'Tomboy'. 

Ser jornalista hoje em dia é burlar a extrema deturpação da notícia. Por exemplo, não é proibido fazer uma matéria entrevistando um heterossexual qualquer que afirma que é liberal, afinal, adora os gays, o moço que corta o cabelo dele é viado! ele é muito liberal, mas ele não quer ter um filho gay, imagina, seu filho gay, e inclusive, é grande apoiador de decreto legislativo 234/11, que obriga o conselho de psicologia a permitir que profissionais tratem a homossexualidade como doença e forneça a "cura". Não, não é proibido. Ninguém vive de mordaça. Mas é uma deturpação sem precedentes da realidade utópica, a ideal, o mundo que a gente tenta criar, ou pelo menos eu tento, que é desconstrução desses medos, estigmas, enraizados há milênios na nossa concepção social e de vida em comunidade.

Já vi notícias que falavam que alguns heterossexuais afirmavam sentir a tal 'heterofobia'. Também já vi brancos reclamando das cotas para negros em faculdade, já vi pessoas sem nenhuma deficiência física reclamando de ter que ceder sua vaga para um deficiente. E o pior, as matérias tinham como tendência levantar essas 'bandeiras'. Vem cá, amigo(a) jornalista: pense um pouco. Pense nas minorias. Se você é hetero, pense como é bom poder beijar sua namorada ou seu namorado em público, andar de mãos dadas, sem ser linchado ou no mínimo receber olhares hostis. Sem ser representado na novela como um ser caricato e completamente fora da realidade, e tantos outros absurdos, ser chamado pejorativamente de todos os nomes possíveis numa voz uníssona de ódio. E então a gente evita reportagens revoltantes, e assim, eventualmente, todos aprenderão. A gente, os disseminadores da notícia. Eles, a sociedade. Todo mundo.

*** O Festival Mix Brasil de Cinema continua rolando, aqui, em Campo Grande.  
Hoje estarei lá, firme e forte na assessoria de imprensa. 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Três filmes sobre solidão

Tá sozinho no fim de semana? afim de enfiar o pé na jaca de vez? Meninalyra te ajuda, e ainda inaugura a tag “Três filmes” sobre qualquer tema! 

Primeiro tema: solidão. Assunto recorrente no cinema, afinal, não tá facio pra ninguém!!!1 Mas vai por mim, esses filmes abaixo são muito bons, e ultrapassam essa temática deveras intrigante. Então pegue a pipoca e o cobertor de orelha (e a caixa de lenço pra possíveis lágrimas gaiatas). 

1. My Blueberry Nights (pt. Um Beijo Roubado).

Quer um filme impecável, de personagens interessantes e tão solitários que dói no fundo da alma? O filme de Wong Kar Wei, de 2007, é ótimo em todos os aspectos. Atores famosos, e uma trilha sonora de fazer chorar, toda elaborada pela rainha indie da fossa, Cat Power.

Na história, Norah Jones (que também colabora brilhantemente com a trilha, tornando o nível de fossa ainda maior) interpreta Elisabeth, uma moça que acaba de terminar o relacionamento de forma traumática (quem nunca) e passa as noites na cafeteria de Jeremy (Jude Law/queria 1), onde pede sempre torta de blueberry e fala sobre o desenrolar solitário e triste de sua história com o cara sacana que nem aparece e mora ali na esquina. Até que ela decide viajar sozinha pra ver se mata a solidão-de-meu-deus, e nas palavras da personagem, “decidi atravessar a rua, mas tomei o caminho mais longo”.

Porque assistir: Tem o Jude Law, tem a Rachel Weisz, e tem a Natalie Portman! ah, e a fotografia é muito, muito interessante. O filme é cheio de grandes frases de efeito e a personagem da Norah Jones é um show à parte. Além de tudo, a distribuição de cenas e ordem de acontecimentos é muito bacana, da própria solidão de Jeremy e de Elisabeth. É um dos meus filmes favoritos.



2. Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (pt. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain).

Ah, a vida antes do Instagram! aqueles filtros vintage que o pessoal insiste em colocar nas fotos já era proeminente no filme de Jean Pierre-Jeunet, de 2001, com a linda da Audrey Tautou no papel principal. Acho difícil alguém não ter assistido ainda essa obra prima, mas rever também é uma delícia. No filme, Amélie (Tautou) é uma moça adorável que cresceu sozinha e aprendeu a apreciar a solidão e os pequenos prazeres da vida. Divide a rotina entre trabalhar no café 2 moinhos e observar seus vizinhos. Até que ela encontra uma caixa de lembranças dentro de seu apartamento, e passa a buscar o dono. Se ele se emocionar ao ver o repositório de memórias da infância, ela irá mudar a vida de todos ao redor. O grande questionamento do filme é: mas e a vida da solitária Amélie, quem muda?

Porque assistir: Os motivos são muitos, desde a fotografia linda, as câmeras extremamente artísticas e a atuação bacana dos personagens, como a dona do café 2 moinhos, Madame Suzanne, o homem de vidro e Nino Quincampoix. É um filme sobre a solidão da personagem, que cria um mundo próprio como refúgio. Mas ao mesmo tempo, há de se ter esperança.



3. Uncle Kent (pt. Uncle Kent).

Dirigido pelo cineasta Joe Swanberg, Uncle Kent, de 2011, narra a história de Kent, um ilustrador vivendo em L.A. Tem 40 anos, mora em uma casa tranquila com seu gato, e sua rotina se resume a desenhar, trabalhar, fumar e usar o chatroulette. Em resumo, sua vida é uma monotonia e ele vive o marasmo de ser solteiro e não levar relacionamento nenhum adiante, e procura um número favorável de desculpas pra isso, perpetuando a solidão e vivendo no seu refúgio, sua casa, e a internet. O conflito que ele evita durante todo o começo do filme acontece quando ele recebe sua amiga e jornalista Kate, que se hospeda em sua casa a trabalho.

Porque assistir: Refletir sobre esse filme é pensar na frialdade das relações que se desenrolam em nosso cotidiano atual. Na verdade, é mais fácil conversar pela internet, ser um observador inócuo das interações virtuais, do que se envolver nelas de fato e ao vivo, porque o conflito não está sempre sob controle, e isso é um outro tipo de solidão. Esperar que a moça que criou o conflito, a perturbação emocional, vá embora, e tudo se resolva, você volta pro mundo virtual, assiste o desenrolar da vida das pessoas nas redes sociais, e tranquilo. Nada te afeta, nada te abate. É fácil e indolor. E como Kent nos mostra, é incolor.