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quarta-feira, 20 de março de 2013

Haicais do Caos

Ninguém sabe como, mas há dias que queimam carros por aqui. Alguma força criminosa sem rosto está colocando fogo em carros estacionados nas ruas da Cidade Morena.

Acho que vi isso tantas vezes nas páginas do jornal que ontem sonhei com isso. Que encontrava meu carro queimando no meio de uma rua deserta. E eu chorava, pedia, gritava, meu carro, meu único bem material, que eu suei tanto pra poder comprar, fruto do meu trabalho e do meu esforço. Aquilo simplesmente queimava, ardia. Aquele objeto, que representou a minha independência mais recente, meu meio de transporte, o funil para onde parte do mês de labuta vai. Queimando. Fora do meu controle.

A gente senta e se acomoda em uma zona de segurança tão grande, e esquece que o caos existe. Está lá fora, está aqui dentro, e nós somos feitos dele. A gente nem lembra, tamanho o conforto, que em um piscar de olhos e pronto, tudo virou do avesso, tudo mudou. Perdemos algo, deixamos algo ir contra nossa vontade. Vórtice.

Eu costumava escrever muito isso nos meus tantos diários da adolescência. Gostava de sentir que era parte pulsante desse caos, que para mim naquela época queria dizer "renovação, mudança". Mas hoje, às vezes sinto que esse esfacelamento da rotina brusco, sem prelúdio e sem preparação, às vezes é muito dificil de lidar. 

Ele vem,  gente se adapta, se renova, cata os pedaços, reconstrói, muda, melhora ou se deixa levar. Se cura, se entrega de volta pra rotina confortável e calorosa. Ou pra rotina gélida da repetição, depende do gosto. E então ele vem, e de novo, leva tudo embora. Leva que nem aquela chuva que falei, que inunda, molha, estraga, mas lava.


E sem caos, a gente não seria nada. 


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