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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Minha e nossa Cidadela


Há três meses atrás eu não fazia a menor ideia do quanto a gente pode fazer um pouquinho mais pelo que acreditamos. Foi quando a Sybylla e a Aline Valek me convidaram para um projeto um tanto inusitado: escrever Ficção Científica Feminista

Mas ein? 

Não tenho nem como explicar isso melhor que a Sybylla, vejam aqui

O caso é que unimos forças, dez autores e autoras com um único objetivo: escrever contos onde a mulher fosse destaque. Quem gosta de FC sabe que, muitas vezes no gênero, a gente não passa de objeto decorativo. 

O desafio: criar protagonistas que lutassem contra sexismo, homofobia, racismo, misoginia. E mais, que interagissem de forma justa, igualitária. Que fossem reflexo do que acreditamos na vida real. 

E foi árduo. Eu comecei com uma ideia, mudei tudo, voltei ao início, pedi socorro à Sybylla. No final, meu conto, "Cidadela", fala sobre uma coisa que sempre me incomodou. Além das outras questões que a gente aborda - a falta de tutela da mulher sobre seu corpo, opressão, preconceito - eu quis juntar não uma, mas duas protagonistas. A vida inteira eu tive mulheres que me foram muito importantes, minhas amigas, em quem eu confiava. Então para mim sempre foi estranho me dizerem que amizade entre mulheres não existe. Existe, sim. Chamar a colega de puta, criticar as mulheres por qualquer postura, achar que não se pode confiar em uma mulher - apenas por ela ser mulher - é uma visão impingida pelo machismo. 

Por isso concebi duas personagens centrais.

Irina é a primeira. Ela é uma mulher oprimida por um sistema que domina tudo (sim, meu conto é uma distopia). Ela é violentada de todas as formas possíveis, jogada ao vento, descartável como muitas mulheres são.

Luisa é a segunda. Ela nasceu em berço nobre, mas seu lugar é a rua. É uma guerrilheira capaz de lutar, de ser invisível ou grandiosa quando quer. Elas percebem, durante a narrativa, que a única forma de vencerem é se unirem. E elas fazem isso naturalmente, porque são mulheres. Sem julgamento. Sem desconfiança. E é a união delas que vai mudar tudo.  

Então pra você conhecer esse e mais nove contos (que nossasinhora, me fazem ficar arrepiada até hoje), basta clicar aqui: Universo Desconstruído. Dá pra baixar em diversos formatos, e de graça, apenas com o PagSocial! Ah, e dá pra comprar o livro via Clube dos Autores! não é lindo? aliás, a ilustração também tá de arrepiar. 

Tô realmente muito orgulhosa de ter feito parte disso. Espero que vocês também fiquem. Luisa e Irina agradecem. :)

PS: Algumas meninas feministas no twitter pontuaram que, ao escrever Ficção Científica Nacional e Feminista (tudo em caixa alta, veja bem), a gente "despolitiza" a causa. Não respondi porque não tenho mais twitter. Só queria dizer que ela entendeu tudo errado. A gente quer é começar com a prática, mesmo. Quer mais autores, mais debates, quer desconstruir um universo masculino e fomentar boas discussões. Por isso, para essas pessoas que olham com desdém, leiam a coletânea antes de falar qualquer coisa. Ou esse post da Sybylla.

domingo, 1 de setembro de 2013

Sorrisos e Sabor

Há quase um mês topei um desafio maluco de ter dois empregos. Ok, eu tinha, porém um deles (a minha colaboração com uma revista) era totalmente em casa, via e-mail. Não havia expediente por lá, e esse frila, onde eu aprendi um montão de coisas (que inclusive me embasaram para escrever cultura hoje), precisei encerrar em maio. 

É estranho como as coisas mudam rápido e o tempo todo. 

Seu Alê (diretor do jornal) faleceu, muita coisa mudou, novas diretrizes, novos tratados. E percebi que eu precisava de mais alguma coisa. Aceitei uma proposta e de repente eu estava saindo de casa às sete da manhã e voltando às oito e meia da noite. Tudo isso em um esquema non-stop

Engulo a comida, engulo o café, dirijo com pressa e tudo isso para fazer meu melhor nos dois empregos. Minha rotina ficou mais pesada do que já era (e já não era muito fácil, quem trabalha em redação de diário sabe) de um jeito exaustivo, porém que vai me permitir coisas ao mesmo tempo materiais e não materiais. 

Esses dias um menino me chamou de maluca por ter decidido fazer isso. "Você consegue escrever fora dos empregos?", ainda não, porque ainda estou me adaptando. Um emprego é como repórter. O outro como assessora de imprensa. Eu estou em dois lados opostos, porém, tento levar tudo de um jeito ético e transparente. 

E tudo isso vai além do 'preciso pagar as conta'. Muito além. 

Aos poucos, depois do turbilhão e de aceitar que, sim, talvez eu seja workaholic, e sim, talvez eu compense mil aspectos frustrantes da minha atual condição em cima do trabalho, estou bem contente, lutando e incansável. E aos poucos retomarei o blog, a fanpage, os contos, os escritos. 

Mas por enquanto não vou falar muito disso, quero falar do Rolê Gourmet. 

Um dia, depois de trabalhar feito uma doida durante seis dias, falei pra alguns amigos: "Venham em casa, vou fazer um risoto". E todos vieram, todo mundo, e eu fiz, e as pessoas comiam e sorriam, e não deu para quem quis, faltou risoto. Sobraram sorrisos e elogios. Fiz questão de registrar tudo e fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem. 

Alguns dias depois fiz uma comida para a minha irmã. E depois para dois amigos muito especiais, e todo mundo se esbalda e sai daqui com um brilho nos olhos que não sei nem explicar. 

Nunca tinha pensado em como a comida podia aproximar as pessoas

Desde então isso é um projeto. Volta e meia vou cozinhar para pessoas queridas. E enquanto eles deixarem minha casa de barriga cheia e sorriso no rosto, eu vou continuar lutando, todos os dias, e sempre com mais força do que antes. 

Bon appetit! :)