Páginas

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Se você não brilha venha e pague minha luz

- Olar, eu me chamo Daiane, conhecida nas redes sociais por menina lyrinha, tenho 25 anos, sou jornalista e moro sozinha. 
- Sozinha? você é casada então, né. 
- Não não, só moro sozinha. 
- Mas como?
- Morando uai. Eu e minhas duas gatas caipirotas. 
- Mas porque? 
- Porque eu gosto, sempre quis ter meu canto. 
- Brigou com seus pais?
- Não, só gosto mesmo.
- Gosta de ficar sozinha?
- Sim, adoro. 
- Mas você é muito nova. Seus pais moram em outra cidade, veio pra estudar?
- Não, eu trabalho e pago minhas contas, meus pais moram aqui em CG mesmo. 
- Mas porque você saiu então, se mora na mesma cidade?
- Porque eu quis uai. 
- Mas... mas... mulher nunca sai de casa, só sai pra casar. 
- Quem disse isso?
- Todo mundo sabe. 
- "Todo mundo" machista, né? 
- Er... pensando por esse lado... acho que sim. 



Tô aqui lavando a minha roupa no meu tanque cujas contas eu mesma pago sem casar e sem lavar cueca de marido, tomando meus bons drink de perna pra cima com meu pijama furado de gatinhos na minha sala, falous valeus sociedade!

Porque é tão difícil entender que mulher pode fazer o que quiser?




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Das opiniões sobre o meu corpo que eu nunca pedi

Esses dias eu estava comentando com a minha irmã que queria fazer uma tatuagem imensa no braço. E ela respondeu: eu preferia que você fosse pra academia cuidar da sua saúde. 

Eu fui pra academia a um tempo atrás e o instrutor disse que eu estou muito acima do meu peso ideal e me recomendou várias atividades e musculação. Fiquei uns dois meses malhando mais ou menos 2 horas por dia. No mês seguinte viajei e a academia ficou de lado. 

Quando eu malhava, fiquei com dor no corpo todo every fucking day, e a instrutora de musculação me deixava puta da vida. Primeiro porque era grossa quando eu pedia alguma ajuda pra ajustar um aparelho ou algo assim. Segundo, uma vez eu tava puta da cara levantando peso com as pernas e pedindo mentalmente pra Jesus me levar e ela disse "como ce é mole! vai gordinha". 

Como ce é mole. Vai gordinha. Vai gordinha. 

Sim, porque eu estava me sentindo ótima naquele momento e de certo a mulher tinha alguma intimidade comigo pra vir me chamar de molenga and gorda. Ok né? Não. Desanimei total e larguei a academia no terceiro mês. Meu peso não mudou muito desde então, mas muitas vezes fiquei indo e voltando nos meus pensamentos a respeito do meu próprio corpo. Meu. Corpo.

Há uns meses atrás escrevi um texto pro blog onde eu enaltecia a frase: "meu corpo, minhas regras", em que eu dizia com várias palavras que me amava como sou. Agradecia a uma pessoa por ter me ajudado com isso. Algum tempo depois decidi fazer academia. Fiquei amargurada com tudo e não postei esse texto até hoje. 

Eu vejo posts da Tess Munster e fico encantada. Ela é tão linda e tão estilosa e eu penso, nunca vou ser assim, me vestir desse jeito. Vejo postagens de gente chamando a amiga de gorda e de homens menosprezando mulheres com dobrinhas e  dizendo que vestir 44 é ser plus size. Não gente, não. 

Aí paro e penso na minha própria vida. Eu sempre fui grande. Quando era magra na adolescência (pq eu me achava gorda mas hoje sei que eu não era) as pessoas me notavam mesmo com as enormes tentativas de sumir atrás de uma cortina de cabelo. Eu tenho as costas largas, 1,69 m e calço 40. Eu nunca fui um padrão, nem serei jamais. 

Me pego pensando que tenho vontade de voltar no tempo e pegar a minha "eu" atual, que conhece o feminismo e que aceita o próprio corpo muito melhor e levar pra dar umas lições nas pessoas que vieram falar groselha sobre o meu corpo. 

Viagem no tempo 1:

- Eu aos 17 anos, indo tocar com a minha banda em um bar. O show tinha sido contratado por telefone e orkut. Na época, o baixista da banda era meu namorado. O cara que contratou o show me contactou pelo perfil no orkut (sdds). Quando chegamos no bar, eu sentei num banco e fiquei tomando umas esperando começar. Esse produtor sentou do meu lado e ficou conversando bobagem. Aí soltou: "Eu pensei que você fosse mais magra". 

Primeira reação foi pensar: -q. 

Segunda reação foi ficar com vergonha pensando "tô enganando as pessoas?". 

Minha eu atual chega e fala: "Amigo, veja este bar, está cheio de gente e ninguém te perguntou nada do meu corpo. Eu não te conheço, não te dei direito de achar nada a meu respeito. Flw Vlws". 

Viagem no tempo 2:

- Eu há dois anos atrás sentada num bar com meus amigos, chega meu ex-namorado com quem fiquei oito anos e sua atual namorada. Fui indiferente e continuei me divertindo, por motivos de que terminamos brigados e fazia quase dois anos que tudo tinha acabado, a vida segue afinal. No final da noite chega o garçom com um bilhete da menina pra mim, que ela deixou com ele e foi embora. E ficou ligando no bar pro cara entregar (que rolê imenso só pra entregar um bilhete). O bilhete dizia: "ele é meu sua gorda recalcada"

Primeira reação foi pensar: -q

Segunda reação foi ficar com vontade de jogar a mesa na cara dela, mas a garota não estava mais lá. Ela foi medrosa o suficiente pra entregar o bilhete e ir embora. 

Terceira reação foi ficar com pena dela por achar que eu ainda queria alguma coisa com um ex que eu realmente nunca mais tinha conversado na minha vida. Fiquei sem entender porque eles se importavam tanto comigo se eu jamais falei com ele depois do fim. Bateu um conflito. 

Minha eu atual chega e fala: "Garota, primeiro de tudo, meu corpo é meu e só meu e não entendi qual seu problema com ele. Tô agredindo seus olhos com a minha gordura? vira o rostinho pro lado minha querida! Segundo, mano, quem saiu do lugar pra mandar bilhete feito uma criança de cinco anos foi você e não eu o que demonstra o recalque real. Terceiro, fica pra você esse aí fia, e aceita que dói menos, vlws flws". 

Esse cara e essa mina, o que eles tinham em comum é o problema com o meu corpo. Um problema que  eu vou continuar lutando não pra ter. Não importa se eu emagrecer, pintar o cabelo, se eu engordar. A minha luta vai ser pra que ninguém se ache no direito de exprimir sobre mim, o que eu faço e como vivo, e quem eu sou, sua opinião sem consulta. E eu vou morrer lutando pelo direito de ser quem eu quiser. 

Flw, vlws. 








PS: A., aquela agradecimento do post nunca publicado é real. Obrigada.