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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Uma troca

A chuva tinha lavado a cidade um dia antes quando eu recebi, saindo do jornal, a seguinte ligação: 

"Dai, eu resgatei um gatinho sarnento. Ele está no veterinário mas quando ele sair, você poderia dar lar temporário a ele?", disse uma amiga muito querida. Aceitei sem piscar duas vezes. 

Minha casa tem exatos dois cômodos que o uso não é frequente: um banheirinho e um quarto de visitas, que uso pra guardar algumas coisas. Alguns dias antes, a Pan (minha gata mais velha) tinha sido diagnosticada com leucemia felina - a temida felv.

Pan

Chorei muito, me desesperei e fui obrigada a deixar a Pagu (a filhotona escaminha, gritona e carente adotada há seis meses) na casa dos meus pais. Pra quem não sabe, a convivência entre um gato negativo e um positivo para felv é altamente desaconselhada. 

Me senti a pior gateira do mundo ao deixar ela por lá, mesmo sabendo que ela seria muito mimada e amada pelos meus pais e pela minha irmã, doeu porque me senti irresponsável. Além disso, doía no peito saber que a Panci não viveria tanto quanto eu gostaria que ela vivesse, ao meu lado. 

Pagu

Eu não gosto muito de chorar. É uma fraqueza minha. Mas quando descobri que a Panci tinha felv chorei muito. Sim, por um gato. Porque ela é minha alma gêmea felina, nós estamos sempre em sintonia e eu fiquei de verdade mal com tudo. A Pan é a minha companhia mais frequente hoje, que está comigo a todo momento quando estou em casa. Partilhamos uma rotina, afagos, momentos de silêncio. Cumplicidade. Quando fomos examiná-la para felv ela agrediu três pessoas na clínica. Eu tive que entrar na sala e segurá-la. E com o som da minha voz ela se acalmou e permitiu que tirassem o sangue. Só a minha presença ali a acalmou. E só a dela me acalma.  

Então quando minha amiga pediu ajuda para dar abrigo ao Chuvisco, eu não tive como negar. Foi como se eu me sentisse em dívida. Ouvi muita crítica que aquilo podia perturbar a saúde da Panci, mas não tive como negar. E Chuvisco-Brie (eu chamava ele de queijinho porque ele é todo branco) chegou num dia quente com o rosto já melhor pela sarna que o desfigurou, porém totalmente careca. Ele estava irreconhecível. 

Chuvisco pouco depois do resgate

Nos 20 dias de LT que dei a ele, ficamos companheiros. Eu ficava várias horas com ele no quartinho. Obrigava ele a tomar um pouco de sol e via, pasma, ele abrir sozinho a trava da janela. Ele melhorou muito, ganhou peso e ficou mais bonito. Encontramos o lar dele, mas ele foi devolvido. Naquele dia, minha amiga e eu ficamos muito chateadas. Nos sentimos impotentes naquela missão que tomamos: ajudar um animal de rua. 

O primeiro banho com 1 semana lá em casa
15 dias lá em casa - bravinho porque coloquei ele no sol

Hoje Chuvisquinho está um pitel de gatinho, mora em uma casa com outros bichinhos de estimação e duas crianças que adoram ele. Fica escondido de dia mas de noite cola com a família e balança o rabicó peludo em busca de carinho e atenção. E ganha tudo isso de sobra, assim como devolve em dobro o carinho. 

Hoje, após sua adoção <3

Meu esforço em tudo isso, eu considero que foi mínimo. Eu dei a ele uma chance, só isso. Foi pouco? foi. Mas pra ele fez muita diferença. Assim como fez diferença pra mim o dia em que cheguei perto de uma gaiolinha de doação de gatos em 2008, e uma gatinha rajada e branca agarrou minha manga e fez: "pruuu". Foi o dia que conheci a minha Panpi

Jamais fui a mesma pessoa novamente. Esse tipo de coisa transforma a gente. Basta abrir um pedacinho do coração. Basta pensar "eu posso jogar isso nas costas dos outros. Ou eu posso, uma vez na vida, me responsabilizar". E eu não me arrependo nem um minuto de ter sido LT de um animal de rua. Eu o ajudei a curar machucados, lhe dei comida e um teto. E ele me ajudou a cicatrizar feridas e esquecer tristezas. 

PS: Panci está muito bem, por sinal. Hoje pediu muito atum e amassou muito pãozinho na coberta <3


segunda-feira, 4 de maio de 2015

O que a gente come é (também) o que a gente é

Eu tenho pensado muito a respeito da minha relação com meu próprio corpo, assim, do jeitinho que ele é: costas largas, sobrepeso, coxas grossas, barriga saliente, pescoço com dobras. Eu nunca tive problemas graves com meu corpo, os outros é que sempre tiveram. Claro que às vezes eu pensava: não vou usar essa blusa aqui porque marca a barriga. Mas no geral, eu realmente penso que a vida pode ser um pouco mais do que isso. E sempre foi, ao menos pra mim e pra muitas amigas queridas minhas que também estão acima do peso, sofrem preconceito mas tão nem aí pra isso. O recalque bate na minha dobrinha e volta, queridos! 

Já fui xingada de gorda? Já. E de outras coisas também, mais ofensivas até. E que mulher não foi xingada de: insira aqui qualquer coisa. Sim, qualquer coisa. Se você não é gorda, você "não tem onde pegar e uzomi gosta de carne". Não existe ideal dentro de um espectro onde NADA é ideal caso você seja mulher. Você pode ser branca, hetero, magra, loira, alta, e ainda sim a sociedade vai achar um defeito em você, fica sossegada. Nem que seja apenas pra te chamar de vadia. Mas eu divago.

Tenho refletido muito sobre como era minha alimentação há cerca de uma semana atrás: comendo rápido pra voltar pro trabalho, sem sentir a comida e o sabor dela, almoço no refeitório do jornal que por vezes incluía carnes boiando em óleo (não tô brincando). Muito arroz branco, macarrão e nenhuma fruta, no máximo uma vez por semana. Fast food, comer fora, nenhum cereal. Chegava em casa da rua esfomeada pelas horas que ficava de jejum então fazia o que tava na mão mais rápido: fritura. Comida processada. Mais macarrão. E de manhã saia sem tomar café da manhã. No trabalho enchia a cara de café preto e comia no máximo um salgado. E assim por diante em loop. 

Sabe o que eu tinha todos os dias? Refluxo. Gastrite. Não aguentava subir direito a escada do trabalho mais de uma vez. Dor no joelho que tem a rótula fraca.

Eu sempre gostei muito de várias comidas legais tipo legumes e verdura. Nunca foi problema comer salada, inclusive eu gosto muito. Então decidi, de uma vez por todas, não mudar minha relação com meu corpo, que é meu e de mais ninguém. E sim mudar minha relação com a comida e com o exercício físico. Por mim, pra me sentir mais saudável, pra sentir melhor o sabor das coisas, pra valorizar o que entra no meu organismo, pra consumir e ser responsável comigo mesma.

Pra uma pessoa que nunca tomou café da manhã na vida com regularidade, está sendo uma luta genuína. E estou fazendo de tudo, e sei que ainda posso melhorar.

Minha rotina mudou completamente há apenas 7 dias e sei que isso é um compromisso pra vida toda, o de não abandonar minha saúde. Não importa se eu vou emagrecer. Importa se eu vou parar de ter refluxo. Não importa quantos quilos vou perder porque isso só vai ser uma consequência de uma melhoria nessa alimentação trash. A maior causa vai ser comer melhor e movimentar meu corpo. Eu não aceito que, querer ser saudável, seja uma porta de entrada pra gordofobia.

 Hoje eu chego em casa depois de um expediente duplo em dois empregos, cozinho arroz integral, feijão, legumes, carne sem gordura, tudo no azeite e pouco sal. Peso a mão no manjericão, na pimenta, no alho, porque além de tudo precisa ser saboroso e prazeroso. Monto duas marmitas que vão me acompanhar, mais os lanchinhos pra aguentar o dia sem sentir fome e sem deixar o estômago se remoendo, a ponto da gastrite colar junto. Saio de casa carregada de sacolas, uma de roupa de malhar e outra de comida.

Acordo cedo, sento e como, venho trabalhar mais disposta. Tento respeitar os horários de comer e de uma vez por todas, saborear o que estou comendo. 

Não tem sido fácil mudar bruscamente um hábito de uma vida. Mas no meu corpo mando eu. E na minha saúde também. 


Almoço maravilhoso: eu que fiz <3

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Casaco sobre a cadeira

Junho de 2013, domingo, 9 horas da manhã.

Lembro perfeitamente que eu estava alimentando a Panci na cozinha da casa dos meus pais e meu celular tocou. Era minha editora, na época em que eu era repórter. A voz dela baixinha ao telefone, quase sumindo. "Lyra, você pode vir trabalhar mais cedo hoje?". Aos domingos geralmente o expediente no jornal começa às 13h. Respondi: "O que aconteceu?". "Seu Alê morreu".

Talvez as soleiras da redação toda feita em vidro e piso de cerâmica estejam acostumadas à tragédia. Mas talvez não. Seu Alexandre era o editor executivo do jornal. No sábado (nossa folga), ele partiu num ataque cardíaco fulminante.

Nós, que estamos acostumados com as tragédias normais da vida, nos pegamos de vez em quando encarando o vidro como se pudesse ver além das paredes, além das luzes. Jornalista, aquele que relata a vida. A morte na rua. Homem morto no córrego. Assassinato. Acidente. Vive em delegacia olhando alguns algozes de frente. Lida com a perda em sua forma mais profunda: a factual, a recente.

Temos medo de ficarmos indiferentes, de vez em quando. Acho que todo jornalista já teve esse medo. Eu, pelo menos, já tive.

Há algumas semanas, a redação foi impactada com a morte de D. Regina, nossa revisora, que trabalhava no jornal desde que ele abriu. Ela amava gatos e vivia me contando do quanto mimava sua gatinha, me dando dicas, me perguntando se as minhas gatinhas já estavam se dando bem.

Algumas vezes fui perguntar coisas de revisão pra ela e fiquei papeando. "Dona Regina, qual o uso dessa palavra?". Ela sempre me respondia sorrindo e emendava: "E suas gatinhas, como estão?". Não convivemos muito, mas fiquei muito triste.

Fui perguntar à uma diagramadora justamente se alguém sabia da existência da gatinha, se precisava alimentá-la, e meus olhos pousaram sobre o casaco rosa claro sobre a cadeira. Do jeito que ela deixou. Ela poderia ter estado ali há cinco minutos atrás. Porém jamais estaria de novo.

(texto escrito em 5 de março de 2015).

quinta-feira, 19 de março de 2015

Escarlate não é vermelho

"Me ensine a ver as coisas
E todas as pistas estão, tão embaçadas, através
Escarlate não é vermelho"

Acordei com esse verso na cabeça. E ele não é meu. É de uma banda independente que fez parte de um jeito muito louco da minha adolescência: Torivas.

Me ensine a ver as coisas.

E hoje esse verso significa que eu tenho tanta coisa pra aprender na jornada. Mas agora é como se eu olhasse por uma janela e lá fora só fizesse neblina. Quando abri os olhos hoje e me lembrei desses versos, alguma coisa me incomodou. Talvez estar envelhecendo.

Vim procurar agora se essa banda ainda existia e não, não existe mais. Pararam de atualizar o Fotolog ainda naquela época. Mas ao ouvir os primeiros acordes de "Escarlate" um mundo de memórias veio na minha cabeça, de um tempo que eu não sinto exatamente saudades. Talvez de algumas coisas. Me veio um sentimento engraçado, de que eu vou fazer 26 anos. E eu quero gritar, tal qual eu gritava na minha banda, expurgando demônios a cada apresentação, independente de ter plateia.

Sei lá. Talvez esse loop em que eu me encontro de volta e meia relembrar um tempo que não volta mais seja uma parte do meu desabafo de finalmente estar do lado de cá, na vida adulta.


Me ensine a ver as coisas...







quinta-feira, 5 de março de 2015

A publicidade brasileira não se garante

No dia 12 de fevereiro, a Revista Fórum publicou um artigo sobre a última publicidade machista do mês: das sopas Vono. Essa semana a discussão toda estava ao redor da propaganda da Always onde Sabrina Sato comparava o “vazamento” da menstruação (quem nunca?) com o “vazamento” de vídeos íntimos na internet. Só que nunca.

As pessoas ficaram bem bravas. E com razão. Entre outras questões, a propaganda fez o que tem sido feito no Brasil à exaustão: culpou a vítima.

Eu trabalhei dois anos numa agência de publicidade e jornalismo, mas as redações eram juntas e hoje eu trabalho diretamente com um publicitário. Sempre admirei o trabalho dos diretores de arte, redatores, mídias e atendimentos. Acho um trabalho tão árduo quanto o de muitos jornalistas que eu conheço. Por isso eu aprendi o seguinte: publicidade machista não é culpa só da agência de publicidade.


Uma campanha passa por NO MÍNIMO três pessoas: o atendimento, o diretor de criação e o cliente. Isso se a agência for pequena. Em grandes agências  deve passar por umas 30 pessoas. Mas o fato é que existem conceitos a serem mudados de todos os lados. A agência precisa se despir de machismo e preconceito na hora de criar ou sugerir uma campanha e precisa sim pensar no impacto negativo que isso vai ser gerado depois que ela for ao ar. Hoje a internet não poupa ninguém. Mas o cliente precisa entender que publicidade burra e preconceituosa muito mais atrapalha do que ajuda.

No Brasil, a publicidade não se garante. E é por isso que propagandas de cerveja com mulher seminua continuam sendo feitas. Não é porque vende. A publicidade tem medo de deixar a campanha padrão-machista de lado e investir em outro conceito e fracassar. Mas o que ela não percebe é que essa falta de coragem já é um fracasso por si só.

A publicidade tem poder de emocionar, de tocar, de abrir horizontes e de despertar emoções. De fazer rir mas também de incomodar. E mesmo assim as mulheres continuam sendo meros objetos decorativos e sexuais. Isso quando a propaganda não faz apologia à dominação e ao estupro. Em um mundo onde uma maioria esmagadora de consumidores é do gênero feminino e onde os índices de violência feminina são alarmantes, a publicidade continua tendo medo de empoderar as mulheres.



Um trecho muito pertinente do artigo da Fórum sobre a propaganda da Vono: "Aliás, falar na linguagem do capitalismo às vezes é a melhor alternativa que as mulheres possuem para que sejam ouvidas. Afinal, mulheres também bebem cerveja, compram sopa em pó, consomem e pagam por produtos e serviços. Em muitos casos, as mulheres ainda são responsáveis pela feira da semana ou do mês e são elas que se deslocam até supermercados para escolher o que vão colocar na mesa. Parece lógico, mas no mundo da publicidade, só quem recebe o devido respeito é o público masculino, em detrimento das mulheres, que são constantemente hostilizadas e agredidas em propagandas misóginas".

Se o mundo é metade feminino, porque a publicidade brasileira é tão machista? Se nós consumimos cerveja, porque estamos nuas nas propagandas? Porque somos vendidas como meras donas de casa ou objetos sexuais segurando uma garrafa? Porque, meus queridos, a propaganda é a alma do negócio. Enquanto a publicidade vender que somos seres inferiores, tem muita gente que vai acreditar e continuar alimentando o monstro do machismo. Simples assim. A publicidade tem medo das mulheres.

Isso só mostra que estamos no caminho certo. Mas ainda existe muito a se fazer.

Outros links pra se ler: 
Dez propagandas históricas machistas
Mídia Feminista
O machismo que impregna a propaganda

segunda-feira, 2 de março de 2015

Callas, essa maravilhosa

Há algumas semanas, o caderno que eu edito no jornal ficou em polvorosa com a chance de entrevistar uma atriz maravilhosa, diga-se de passagem: Silvia Pfeifer. Quem assiste ela na novela das sete como vilã, hoje, não imagina a simpatia que ela é. Uma pessoa centrada, acessível, que, como diz a minha estagiária Lua, ganha em todos os níveis de maravilhosidade. A Silvia veio pra cá pra estrelar a peça "Callas", baseada na vida trágica da soprano grega Maria Callas, que morreu nos anos 70. 

Resolvi ir assistir já antecipando que seria uma peça daquelas boas. E de fato, foi. A Silvia, incrível, o cenário extremamente elegante e bonito, iluminação surpreendente e sensível. Em quase uma hora de montagem, você tem a oportunidade de conhecer mais sobre uma cantora que fez história na ópera mundial, e que teve uma trajetória cheia de problemas pessoais e profissionais. 

Foto: Marcelo Victor

O enredo se desenrola, curiosamente, como se fosse uma enorme entrevista jornalística daquelas que só repórteres próximos à fonte fariam, já que, na sinopse, o jornalista John, personagem fictício, convida Callas para conhecer uma exposição que fará sobre ela e aproveita para entrevistá-la. Só que, nesse momento, a intensidade e a dramaticidade de uma história real acabam dominando a história. Em determinado ponto, John (o jornalista) vira o entrevistado pela curiosa Callas, que, nesses momentos, deixa a amargura pessoal de lado para fazer perguntas. Mas John foge e recomeça a tocar nas feridas dela. 

A peça me fez refletir não só sobre a história de uma mulher imensamente forte que passou por muitas coisas ruins como uma mãe opressora, a cobrança de ser a melhor cantora do mundo, o casamento sem amor e depois o amor que se casa com outra, o filho que é natimorto, as críticas pesadas da imprensa. Tudo isso pelo amor à música e ao seu público, que ela cultivava com apreço. A maior reflexão que me trouxe foi sobre a relação fonte-repórter

Callas cita, em vários momentos, sua relação de amor e ódio com a imprensa. Muitas vezes, jornais italianos e franceses usaram sua rixa famosa com a cantora Renata Tebaldi, para vender exemplares. E essa pisoteação fazia sucesso. Maria Callas não confiava na imprensa. Mas amava estar nela quando era ovacionada. Nem sempre nosso papel é destruir carreiras ou humilhar, mas revendo a situação dos jornais na época que Callas viveu, muitas vezes isso era serventia da casa. A cantora teve o azar de ver a imprensa em sua face mais grotesca.  

E, quando Callas diz à John que foi execrada pelos jornais porque "abandonou o espetáculo mais uma vez", com manchetes e letras garrafais, ela se vira para o amigo, e diz: "minha voz estava acabada, John". Na biografia dela, é contado que ela desmaiou de exaustão e pela dor da voz há muito perdida atrás das cortinas. Que se fecharam pra sempre.

Momento tietando a Silvia <3

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Dos diários e de um outro tempo



Quem eu era, há alguns anos. A menina que eu fui quando adolescente. Os diários que eu sempre escrevi. Tive um milhão de agendas, cadernos, livrinhos de desabafo. Eu sempre gostei de escrever pra desabafar. 

Desses milhares de diários, alguns cadernos ainda permanecem, que eu escrevi na adolescência. Eu sai da casa dos meus pais e não sei porque senti que precisava deles na minha casa nova. Não folheei nenhum durante a mudança. 

Todos os escritos são reticências de ser adolescente e ter um monstrinho de dúvidas e inquietações dentro de você. E como tudo isso se conecta à mim hoje, quando minha única concessão é escrever nesse blog, raramente, assumo, menos do que deveria. 

Desses cadernos e linhas e folhas de papel, o que sobrou de mim. Ontem a noite precisei abri-los e foi como abrir uma cápsula do tempo, o que na verdade eles são. E perceber que o ensejo não mudou. A música ainda é a mesma. Os desejos de adolescente eu tranquei numa caixa de chumbo aqui dentro. Mas eu não posso continuar mais negando que eles existem e eles já estavam lá naquela época. 

Eu já imaginei criar uma fogueira enorme com esses cadernos e queimar tudo, os canhotos de cinema, os desenhos, os recadinhos de amor e as letras de música. Já imaginei ver aquilo ardendo, queimando, meu passado e minha definição. Mas desisti. Ás vezes a gente precisa se encontrar um pouco. Aquela menina risonha e que funcionava à mil, eu não consigo mais acreditar que não sobrou nada mais dela. A gente não pode aceitar que se perdeu entre os numerais 15 e 30. Nossa idade. Nosso crescimento.

Março, esse mês que se aproxima, quando eu completo, no dia 31, meus 26 anos, sempre me faz refletir dessa forma. Sempre, como aqui. Fuçando nos diários como se fossem tábua de salvação, encontrei a data onde eu comecei a odiar aniversários, em 2004, a contabilizar o caos e a amargura não de ficar mais velha, e sim de me sentir mais frustrada, quando nada que eu imaginei aconteceu. É um sentimento ruim por tempo demais. 

"
Março chegou. Sempre que eu lembro do mesmo mês no ano passado, sinto um aperto no peito. Eu tinha tanta certeza sobre tantas coisas. Sobre o que eu era, o que eu queria e onde iria estar. Minhas certezas eram de ferro. E eis me aqui, vivendo outra vida, que em nenhum momento foi planejada por mim. Março me faz olhar pra trás, pra todos os dias 31 que já passei e lembrar com muita clareza desses planos que nunca floresceram. 
"

Eu disse em março de 2013. Não mais

Esse ano, prometo, vou deixar os diários e o mês de março em paz. E só assim vou sorrir com 26. 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

4 Dicas práticas para usar o Feng Shui na decoração



Na hora de comprar móveis para a casa ou escritório o Feng Shui pode servir como uma ferramenta útil para harmonizar os ambientes, tanto em um sentido decorativo quanto no sentido energético. Por isso reuni neste artigo 4 dicas práticas para usar o Feng Shui na decoração. Confira:

A entrada da sua casa vale mais do que você imagina

A porta de entrada é um dos pontos principais de atenção para o Feng Shui, pois é por ela que a maior parte da energia (aqui chamada de Chi) entra dentro do ambiente. Sua porta da frente precisa ser agradável e convidativa tanto para seus amigos e clientes quanto para as energias positivas e novas oportunidades de negócios.

Garanta que nada atrapalhe a visão e o caminho de entrada, tanto por dentro quanto por fora. Para o Feng Shui, a facilidade de entrada e saída das pessoas também vai facilitar o fluxo das energias boas na sua casa ou escritório.

Cores adicionam diversos significados

Decoradores e arquitetos experientes em Feng Shui utilizam o “Mapa Baguá” para definir desde a posição de móveis para sala, até a cores e texturas para decoração. Este mapa define as influências das cores e energias que cada objetivo têm dentro da casa.

Para identificar as posições e outros detalhes dos móveis na decoração é preciso aplicar o Baguá partindo da planta baixa da casa, considerando a porta de entrada. Para mais informações sobre o Mapa Baguá assista este vídeo no Youtube.

Dispositivos eletrônicos não devem estar presentes em lugares de descanso

Tanto em um quarto quanto em uma sala de descanso dentro do escritório, os dispositivos eletrônicos devem ser banidos ou evitados ao máximo. Segundo o Feng Shui eles sugam suas energias e te impedem de ter um bom descanso no sono ou em uma pausa para um café.

Mas se você precisa manter eletrônicos em locais de descanso, tente guarda-los, sempre desligados durante a noite.

Tenha algumas plantas
No Feng Shui, as plantas representam a natureza e trazem felicidade e energias de curativas para qualquer ambiente. Por isso, mantenha sempre plantas saudáveis e coloridas para ter sempre brilho e vitalidade na sua casa ou escritório. E trate de cuidar bem delas, pois plantas mal cuidadas e mortas podem gerar um efeito contrario, pois acumulam excessivamente a energia Yin.

Espero que tenham captado as pequenas essenciais do Feng Shui para a decoração. Este é um grande universo que pode ser explorado para deixar a sua casa mais bonita, aconchegante e aberta para receber boas energias. 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

"Rock de Menina"

De vez em quando eu desapareço do blog porque minha escrita trava, como eu já expliquei pra vocês aqui. É uma tarefa muito árdua pra mim, às vezes, escrever, porque meu ganha pão é esse e o desafio é não me perder nesse emaranhado de letras. Eu passo o dia inteiro escrevendo. E quando quero escrever, me faltam palavras. Mas não desistam de mim. 

Hoje fiz uma descoberta musical daquelas genuínas e por acaso. Me perguntaram se eu conhecia Far from Alaska. Coloquei no Youtube e senti uma formigação dentro do estômago, maravilhosa, como há muito tempo não acontecia. 

Ouvi essa música. Um vórtice de pensamentos e lembranças aterrissou sobre a minha cabeça. Meu deus. 

Que força, gente. Que força. 

Procurei sobre a banda e descobri que eles são de Natal (RN), brasileiros. E fui ouvindo a música mais e mais e lembrando de como era ter banda, das bandas de metal que eu tive. Deixando a música FODA de lado, me identifiquei com a moça vocalista. Uma vez reclamei de ter dificuldades em encontrar bandas de stoner rock com vocais femininas, e taí uma delas pra me tirar o chão. 

Emily, não te conheço, mas já te amo. Sua voz não só me impressionou como me senti sob os seus ossos nesse vídeo. Uma garota de camiseta, jeans, sem maquiagem, gritando letras fortes e irônicas. Sem ser objeto, sem ser necessariamente magra, loira, cantando dilemas de amor e falando de namorado nas músicas, porque ela fala sobre o que ela quiser, usando a ironia que quiser e os palavrões e o idioma que ela quiser. Porque é isso que a maioria dos roqueiros de plantão acham que mulher tem que fazer no rock: cantar letrinha babaca sobre algum macho, provavelmente com uma voz fina e infantil. Porque mulher que canta grosso (como eu cantava), não pode ser levada à sério. Wait, shut! 

Quando eu tinha  16 anos, tinha uma banda que tocava som pesado e fazia cover de bandas de metal femininas gringas. A gente foi tocar em algum buraco da cidade e lembro que eu usava um shorts largo, uma camisa preta, bota e aquele cabelo batendo nas costas. Eu tocava uma guitarra preta flying v, e aquele era meu momento de gritar e berrar em gutural. E na banda tinham outras duas meninas. E lembro de estar encostada em um pilar esperando nossa vez de de tocar e ouvi um diálogo: "aquela que é a vocalista? isso aqui não é show da Sandy não", disse o ~headbanger~. 

Lembro que subi no palco e abri o maior gutural que consegui. Virei pra ele, entre uma segurada de palheta e outra, e mostrei o dedo do meio. 

Foda-se você, seu machista. O choro é livre porque as mulheres vão continuar nadando contra a maré social desse mundo misógino. Se conforma. Aqui vai meu gutural pra você. 

E Far From Alaska me trouxe toda essa sensação de volta. Um dedo do meio entre as seis cordas bem grande pro machismo. 

We rock, girls. 

She says, "I gotta tell you my story, man
The right story, man"
(Because yours is a lie)
Wait, shut, I gotta tell you my story, man
The whole story, man